Especialistas da Fiocruz integram projeto em Angola para atualização de mapa sobre doenças transmitidas por insetos

Um grupo de especialistas da Fiocruz embarcou para Angola em abril para uma missão que busca a atualização do mapa entomológico do país africano, uma necessidade que foi reforçada após o primeiro registro do mosquito “tigre-asiático” (Aedes albopictus) no território angolano em 2025. O objetivo do trabalho é levantar novos dados sobre a situação epidemiológica das doenças transmitidas por vetores na região.

Até a última sexta-feira, 2 de maio, os especialistas atuaram nas cidades de Luanda, Lobito, Lubango e Saurimo. A iniciativa teve coordenação do Centro de Relações Internacionais em Saúde (CRIS), com gestão das analistas Erica Kastrup, Cláudia Turco e Cláudia Presotto. Já o ponto focal da coordenação técnica no Brasil é a pesquisadora da Fiocruz Rondônia, Genimar Rebouças Julião.

“Esse projeto tem por objetivo principal o fortalecimento estruturante e sustentável da Vigilância Entomológica do país, uma iniciativa do governo Angolano por meio do seu Ministério da Saúde e o programa regional REDISSE IV. Nesse sentido, parcerias e cooperações firmadas desde 2023 procuram priorizar as necessidades da população, seriamente afetada pelas doenças com transmissão vetorial, como a malária”, explica Genimar.

A equipe multidisciplinar que iniciou o trabalho em Angola é composta por entomólogos, biólogos, ecólogos, geógrafos, médicos e veterinários. Dois geógrafos do Fórum Itaboraí (Fiocruz Petrópolis) participam da missão: Caiett Genial e Bruno Cesar dos Santos. Eles estão atuando na formação na área de Cartografia e Geoprocessamento, além da Vigilância Cidadã, que é a geração de dados a partir dos moradores das localidades situadas nos municípios e províncias de Angola. A partir disso, será alimentado um banco de informações que irá complementar os dados das coletas de campo para construção do mapa atualizado.

Sobre o projeto

O REDISSE (fase IV) é um projeto de Melhoria dos Sistemas de Vigilância Regional financiado pelo Banco Mundial e constitui um programa que apoia e incentiva os países da África Central no enfrentamento de doenças e epidemias ocasionadas pelo desequilíbrio na interface humano-animal-ambiental. O objetivo é promover melhorias nos sistemas de saúde e na capacidade diagnóstica, de detecção e de prevenção, que permitam respostas mais rápidas e eficientes às ameaças de Saúde Pública regional e global.

“Várias estratégias têm sido implementadas para incrementar a vigilância contínua dos agentes infecciosos transmitidos por mosquitos, carrapatos, moscas, piuns, maruins e outros artrópodes vetores presentes em Angola. Em 2012, o país elaborou o Mapa Entomológico de Angola, documento que detalha a distribuição de espécies de mosquitos anofelinos em todo o território angolano, com agregação de dados de densidade relativa e níveis de resistência a inseticidas”, conta Genimar.

Coordenador da equipe técnica do projeto em Angola, José Franco Martins, também chefe do Departamento de Controle de Doenças e coordenador do Programa Nacional de Combate à Malária afirma que este trabalho de atualização enquadra-se como um exercício de fundamental importância, cujo a necessidade surgiu a partir da epidemia de febre amarela em 2016 aliado ao crescente casos de arboviroses, como Dengue e Chikungunya, bem como casos de Zika. “E pelo fato de o país estar intensificando a vigilância das arboviroses e outros vetores, como por exemplo o Anofeles stenphensi (mosquito transmissor da malária), julgamos ser oportuno atualizar o mapa entomológico para conhecermos os vetores transmissores de doenças e, com isso, podermos definir as melhores estratégias de combate”, destacou José Franco.

Sobre a participação da Fiocruz no trabalho, ele acrescentou que agrega ao componente de sustentabilidade com, inicialmente, a formação de técnicos angolanos e, através desta, a criação de capacidade local para garantir a continuidade destes exercícios em períodos mais curtos.  “Também se torna importante para nós pela partilha de boas práticas relativamente à iniciativa de vigilância cidadã, que permitirá criar um banco de imagem para fins pedagógicos por um lado e para orientar a população em medidas a adotar em caso de acidente com esses vetores”, disse.

Segundo Genimar, o projeto priorizou os investimentos em recursos humanos, principalmente os profissionais de “linha de frente”, que executam as ações de vigilância e controle no país. Nesse cenário, as equipes de Angola e do Brasil definiram a sustentabilidade como pilar do projeto, garantindo a formação de multiplicadores e a capilarização do conhecimento na vigilância e controle de vetores e dos patógenos por eles transmitidos.

Visando também a integralidade, optou-se pela abordagem de “Uma só Saúde”, para a construção de um esforço colaborativo de múltiplas disciplinas para atingir a saúde ideal para pessoas, animais e o ambiente onde estão inseridos.

A execução do projeto prevê várias etapas, incluindo a formação de recursos humanos especializados e seminários avançados, dando continuidade à política de fortalecimento da Cooperação Sul-Sul em Desenvolvimento em Saúde e aprofundamento nas conexões da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Angola no Brasil

Para o alinhamento das ações do projeto em abril e maio, a Fiocruz recebeu a equipe angolana do projeto REDISSE IV, com a presença de José Franco Martins. Na ocasião, a equipe angolana visitou alguns dos laboratórios que atendem às questões sanitárias relativas à transmissão vetorial na Fiocruz.

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